André Luiz, em seu livro
Mecanismos da Mediunidade, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, define
animismo como sendo "o conjunto dos fenômenos psíquicos produzidos com a
cooperação consciente ou inconsciente dos médiuns em ação."
"Se o animismo faz
parte do processo mediúnico sempre haverá um porcentual a ser considerado, não
fixo, mas variável, envolvendo o grau de desenvolvimento do médium."
Nossa opinião: -
Entendemos que o animismo, a bem de esclarecimento, pode perfazer totalmente a
manifestação quando a alma está emancipada. Isto se verifica quando médiuns de
desdobramentos, sonambulismo, etc. encontram-se em atividades socorristas,
principalmente.
Alinhando
apontamentos sobre a mediunidade, não será lícito esquecer algumas
considerações em torno do animismo ou conjunto dos fenômenos psíquicos
produzidos com a cooperação consciente ou inconsciente dos médiuns em ação.
Temos
aqui muitas ocorrências que podem repontar nos fenômenos mediúnicos de efeito
físicos ou de efeitos intelectuais, com a própria Inteligência encarnada
comandando manifestações ou delas participando com diligência, numa
demonstração que o corpo espiritual pode efetivamente desdobrar-se e atuar com
os seus recursos e implementos característicos, como consciência pensante e
organizadora, fora do carro físico.
A verificação de semelhantes acontecimentos
criou entre os opositores da Doutrina Espírita as teorias de negação,
porquanto, admitida a possibilidade de o próprio Espírito encarnado poder atuar
fora do traje fisiológico, apressaram-se os descrentes inveterados a afirmar
que todos os sucessos medianímicos se reduzem à influência de uma força nervosa
que efetua, fora do corpo carnal, determinadas ações mecânicas e plásticas, configurando,
ainda, alucinações de variada espécie.
Todavia, os estardalhaços e pavores levantados
por esses argumentos indébitos, arredando para longe o otimismo e a esperança
de tantas criaturas que começam confiantemente a iniciação nos serviços da
mediunidade, não apresentam qualquer significado substancial, porque é forçoso
ponderar que os Espíritos desencarnados e encarnados não se filiam a raças
contrárias que se devam reencontrar em condições miraculosas.
Animismo ou Espiritismo? Qual dos dois explica
o conjunto dos fatos?
Nem
um, nem outro, pois que ambos são indispensáveis à explicação do conjunto dos
fenômenos supranormais, cumprindo se observe, a propósito, que eles são efeitos
de uma causa única: o espírito humano que, quando se manifesta em momentos
fugazes, durante a existência “encarnada”, determina os fenômenos anímicos e,
quando se manifesta na condição de “desencarnado” no mundo dos vivos, determina
os fenômenos espíritas.
É racional, com efeito, supor-se que o que
um Espírito “desencarnado” pode realizar, também, deve podê-lo – embora menos
bem – um Espírito “encarnado”, sob a condição, porém, de que se ache em
emancipação da alma, fase que corresponde a um processo de desprendimento do
Espírito (sono fisiológico, sono sonambúlico, sono mediúnico, êxtase, delíquio,
narcose, coma, eqm, etc.
Para uma melhor
avaliação, vamos particularizar as manifestações mediúnicas e anímicas em três
situações: a) as espirituais ou aquelas que envolvem o espírito desencarnado;
b) as de animismo emergente; c) as que conscientemente o médium se manifesta
num autentico estado de emancipação da alma
a)
As espirituais ou aquelas que envolvem o espírito desencarnado
Na verdade a questão do animismo foi de tal maneira
inflada, além de suas proporções, que acabou transformando-se em verdadeiro
fantasma, uma assombração para espíritas desprevenidos ou desatentos. Muitos
são os dirigentes que condenam sumariamente o médium, pregando-lhe o rótulo de
fraude, ante a mais leve suspeita de estar produzindo fenômeno anímico e não
espírita. Não há fenômeno espiritual puro, de vez que a manifestação de seres
desencontrados, em nosso contexto terreno, precisa do médium encamado, ou seja,
precisam do veículo das faculdades da alma (espírito encarnado) e, portanto,
anímicas.
No capítulo XIX
de O Livro dos Médiuns ("Do papel dos médiuns nas comunicações
espíritas") Kardec reproduz o teor das consultas que formulou a dois dos
mais competentes especialistas sobre o fenômeno mediúnico, ou seja, Erasto e
Timóteo, que parece terem sido incumbido de orientar os estudos em tomo da
mediunidade.
Quando Kardec
pergunta como é que um espírito manifestante fala uma língua que não conheceu
quando encamado, Erasto e Timóteo declaram que o próprio Kardec respondeu à sua
dúvida, ao afirmar, no início de sua pergunta, que "os espíritos só têm a
linguagem do pensamento; não dispõem da linguagem articulada". Exatamente
por isso, ou seja, por não se comunicarem por meio de palavras, eles transmitem
aos médiuns seus pensamentos e deixam a cargo do instrumento vesti-los, obviamente,
na língua própria do sensitivo.
Reiteramos, portanto, que não há fenômeno
mediúnico sem participação anímica. O cuidado que se toma necessário ter na
dinâmica do fenômeno não é colocar o médium sob suspeita de animismo, como se o
animismo fosse um estigma, e sim ajudá-lo a ser um instrumento fiel, traduzindo
em palavras adequadas o pensamento que lhe está sendo transmitido sem palavras
pelos espíritos comunicantes.
b)
As de animismo emergente
Certamente
ocorrem manifestações de animismo puro, ou seja, comunicações e fenômenos
produzidos pelo espírito do médium (Alma) sem nenhum componente espiritual
estranho, sem a participação de outro espírito, encamado ou desencontrado. Nem
isso, porém, constitui motivo para condenação sumária ao médium e, sim, objeto
de exame e análise competente e serena, com a finalidade de apurar o sentido do
fenômeno, seu por que, suas causas e conseqüências.
O animismo é a
comunicação da própria alma do médium. Em todas as comunicações mediúnicas é
necessário levar em consideração o fator anímico. Todos os médiuns possuem
problemas anímicos, ou seja, dificuldades provenientes do seu próprio Espírito
e personalidade. É comum que essas anormalidades emocionais ou psicológicas
aflorem durante o transe mediúnico.
Vejamos
uma manifestação de autentico animismo, extraída do livro Nos Domínios da
Mediunidade – cap. 22. Um episódio cristalizado na inconsciência da médium;
vejamos o exemplo de uma emersão no passado:
“E a pobre criatura prorrompeu em
soluços, enquanto um homem desencarnado, não longe, fitava-a com inexprimível
desalento.
Perplexos, Hilário e eu lançamos um
olhar indagador ao Assistente, que nos percebeu a estranheza, porquanto a
enferma, sem a presença da mulher invisível que parecia personificar,
prosseguia em aflitiva posição de sofrimento.
- Não vejo a entidade de quem a nossa
irmã se faz intérprete - alegou Hilário.
- Estamos diante do passado de nossa
companheira. A mágoa e o azedume, tanto quanto a personalidade supostamente
exótica de que dá testemunho, tudo procede dela mesma...
Ante a aproximação de antigo desafeto,
que ainda a persegue de nosso plano, revive a experiência dolorosa que lhe
ocorreu, em cidade do Velho Mundo, no século passado, e entra em seguida a
padecer de melancolia.
(...) Mediunicamente falando, vemos
aqui um processo de autêntico animismo. “Nossa amiga supõe encarnar uma
personalidade diferente, quando apenas exterioriza o mundo de si mesma...”
c)
As que conscientemente o médium se manifesta num autentico estado de
emancipação da alma: Ideoplastia, bi-corporeidade, pré-cognição e
retro-cognição, dentre outras.
Para que
ocorram fenômenos anímicos desta natureza, faz-se necessário que o perispírito
do encarnado desprenda-se, parcial e momentaneamente, do seu corpo físico.
Nestas circunstâncias, a alma toma conhecimento da realidade extra física,
percebendo-a de acordo com o seu entendimento. Nestas circunstâncias, pode
entrar em comunicação com outros Espíritos desencarnados e encarnados. Durante
esse desprendimento (ou emancipação da alma), que pode ser mais ou menos
duradouro, diz-se que o Espírito do encarnado encontra-se desdobrado, em estado
semelhante ao do transe, situado entre a vigília e o sono.
Desse modo, na manifestação anímica, o
médium pode expressar muitos conhecimentos que ele, enquanto encarnado, não
possui. Daí decorre, muitas vezes, que não há como se saber se uma manifestação
é anímica ou realmente mediúnica, ocorrendo esta última tão somente quando o
espírito que se comunica não é o que está encarnado, ou seja, não é o médium, e
sim uma individualidade desencarnada, um espírito. Os fenômenos espíritas
(produzidos por um espírito) podem ser divididos em dois grupos: os fenômenos
anímicos (quando é produzido pelo encarnado, com suas próprias faculdades
espirituais, sem o uso dos sentidos físicos, graças à expansão de seu
perispírito; os fenômenos mediúnicos, produzidos por um espírito por intermédio
do médium. Ainda segundo Therezinha de Oliveira, quanto maior o grau de
expansão do perispírito, mais expressivo poderá ser o fenômeno anímico, pois o
encarnado poderá desfrutar mais de maior liberdade em relação ao corpo,
passando a atuar mais como um espírito liberto.
Entretanto, mostra-se difícil separar
o fenômeno anímico do mediúnico, pois: 1) - São as próprias capacidades
anímicas dos médiuns que os fazem instrumentos para a atuação dos espíritos; 2)
- Nem sempre podemos definir, com precisão, se o fenômeno está ou não sendo
provocado ou coadjuvado por espíritos. Na grande maioria das vezes, o que
ocorre é um estado intermediário com maior ou menor participação do espírito
encarnado no médium em relação ao espírito desencarnado que por ele se
expressa.
Há, contudo, casos destas
manifestações anímicas associadas à obsessão, às vezes despercebidos no grupo
mediúnico. Atentemos a este esclarecimento do Espírito André Luiz: Neste
aspecto surpreendemos multiformes processos de obsessão, nos quais
Inteligências desencarnadas de grande poder senhoreiam vítimas inabilitadas às
defensivas, detendo-as, por tempo indeterminado, em certos tipos de
influenciação obsessiva.
O
fenômeno anímico, portanto, na esfera de atividades espíritas, significa a
intervenção da própria personalidade do médium nas comunicações, quer dos
espíritos desencarnados, quando ele impõe nelas algo de si mesmo à conta de
mensagens transmitidas de Além-Túmulo ou quando conscientemente desfruta das
suas possibilidades diante da emancipação da alma, tendo neste caso manifestado
apenas os seus próprios conhecimentos que se encontravam latentes no
inconsciente. Outro fator a ser considerado é que a alma do médium pode
comunicar-se como a de qualquer outro.
Assim quando se afirma que
determinada comunicação mediúnica foi “puro animismo” quer-se explicar que a alma
do médium ali interveio com exclusividade tendo ele manifestado consciente ou
inconscientemente apenas os seus próprios conhecimentos e conceitos pessoais,
embora depois os rotulasse com o nome de algum espírito desencarnado.
A teoria do animismo, ou o termo
"animismo" aparenta ter sido desenvolvido inicialmente pelo cientista
alemão Georg Ernst Stahl, por volta de 1720, para se referir ao "conceito
de que a vida animal é produzida por uma alma imaterial". Uma das
redefinições mais famosas do termo foi feita pelo antropólogo inglês Sir Edward
B. Tylor, em 1871, na obra Primitive Culture (A Cultura Primitiva) .
Para o
Espiritismo, o animismo é o estado em que opera o Espírito do médium, e não o
do desencarnado. O médium, sob a influência da própria faculdade ou da
assistência, fala e obra por si mesmo sem interferência de Espírito
desencarnado.
Diz-se
que animismo é a influência do médium na comunicação mediúnica porque a
mediunidade não existe sem animismo. Sempre que houver uma comunicação
mediúnica, haverá a influência do médium, que empresta o seu veículo físico
para a manifestação do Espírito desencarnado.
Todas as manifestações mediúnicas
(psicofonia, psicografia, vidência, audiência, intuição, cura, etc.),
classificadas por Allan Kardec em fenômenos de efeitos físicos e fenômenos de
efeitos inteligentes, trazem o teor anímico do médium, uma vez que este não age
como uma máquina, na recepção e transmissão da mensagem do Espírito
comunicante. Funciona como um intérprete do pensamento do Espírito, imprimindo
naturalmente às comunicações mediúnicas que intermedia características
peculiares de sua personalidade: “(…) É por isso que, seja qual for à
diversidade dos Espíritos que se comunicam por um médium, os ditados que este
obtém ainda que procedendo de Espíritos diferentes, trazem, quanto à forma e ao
colorido, o cunho que lhe é pessoal. (…)”, afirmam Erasto e Timóteo em mensagem
que consta de O Livro dos Médiuns. Allan Kardec, por sua vez, acrescenta: O
Espírito do médium é o intérprete, porque está ligado ao corpo que serve para
falar e por ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos que se comunicam
como é preciso um fio elétrico para transmitir uma notícia a grande distância,
desde que haja, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente que a receba e transmita.
Freqüentemente, pessoas encarnadas,
nessa modalidade de provação regeneradora, são encontráveis nas reuniões
mediúnicas, mergulhadas nos mais complexos estados emotivos, quais se
personificassem entidades outras, quando, na realidade, exprimem a si mesmas, a
emergirem da subconsciência nos trajes mentais em que se externavam noutras
épocas, sob o fascínio constante dos desencarnados que as subjugam.
Vemos assim, a necessidade, sempre
presente, da aquisição do conhecimento espírita e o desenvolvimento do espírito
de fraternidade, aconselhado por Jesus, a fim de analisar o assunto com
maturidade e discernimento espirituais.
Kardec não utiliza o termo animismo.
Contudo, um estudo apurado do capítulo 19 de O Livro dos Médiuns esclarece-nos
que nas comunicações... “O Espírito do médium é interprete e exerce influência
sobre as comunicações que deve transmitir. Nunca é completamente passivo. É
passivo quando não mistura suas próprias idéias à do Espírito estranho, porém,
jamais é absolutamente nulo, seu concurso é sempre necessário como
intermediário, mesmo nos que chamamos de médiuns mecânicos”
Assim, animismo é a influência do
médium na comunicação do Espírito. Poderá haver contradições, e até erro na
comunicação. Difere da mistificação que, pelo contrário, engana e abusa da
credulidade de outrem, fazendo-o crer como verdadeiro o que é falso. É agir de
má fé.
Em O Livro dos Espíritos (capítulo
VII, "Da Emancipação da alma") foi também abordado o tema da
atividade espiritual do ser encamado. Se nos lembrarmos de que a codificação
conceitua a alma (anima) como espírito encamado, temos aí a clara abordagem à
questão do animismo, embora o termo somente seria proposto, anos mais tarde,
por Aksakof, como vimos.
Cuida esse capítulo da atividade da
alma, enquanto desdobrada do corpo físico pelo sono comum, e nisto estão
incluídos os sonhos, contatos pessoais com outros indivíduos, encamados ou
desencarnados, telepatia, letargia, catalepsia, morte aparente, sonambulismo,
êxtase, dupla visão. Todo esse capítulo cuida, portanto, da fenomenologia
anímica, ainda que de maneira um tanto sumária, pelas razões já expostas.
Por ocasião dos preparativos ao
Congresso Espírita Internacional, programado para Glasgow em setembro de 1937,
o comitê organizador escreveu ao cientista italiano Enesto Bozzano convidando-o
a participar dos trabalhos na honrosa (e merecida) condição de seu
vice-presidente.
Pedia ainda o comitê que Bozzano
preparasse um resumo de sua obra, já bastante volumosa àquela época, destacando
como tema básico a questão do animismo, de forma a encaminhar uma solução
conclusiva para o problema que se colocava na seguinte pergunta-título sugerida
para seu ensaio: Animism or spiritualism - Which explains the facts? (Animismo
ou espiritismo - Qual deles explica os fatos?). O eminente pesquisador italiano
alcançara, em 1937, a respeitável idade de 75 anos - viveria mais seis anos,
pois morreu em 1943 -, e o tema proposto pelos organizadores do congresso significava
como ele próprio o caracterizou "formidável encargo", dado que se
datava de "resumir a maior parte da minha obra de 40 anos". A
despeito disso, o idoso cientista entusiasmou-se pelo assunto, que se
apresentava como “teoricamente muito importante".
Foi assim que os estudiosos dos
fenômenos psíquicos se viram presenteados com mais um de seus notáveis e
competentes estudos, que a Federação Espírita Brasileira vem publicando, em
sucessivas edições, sob o título Animismo ou Espiritismo?
Não foi difícil para ele responder o
que lhe fora perguntado, mesmo porque a resposta estava implícita em sua obra:
Nem um, nem outro logra,
separadamente, explicar o conjunto dos fenômenos supranormais. Ambos são
indispensáveis a tal fim e não podem separar-se, pois que são efeitos de uma
causa única, e esta causa é o espírito humano que, quando se manifesta, em
momentos fugazes durante a encarnação, determina os fenômenos anímicos e,
quando se manifesta mediunicamente, durante a existência 'desencarnada',
determina os fenômenos espiríticos. (Bozzano, Ernesto, 1987.)
O tema já fora tratado, aliás, em
outra importante obra a de Alexandre Aksakof, igualmente publicada pela FEB,
sob o título Animismo e Espiritismo (2 volumes).
Tanto a obra de Bozzano quanto a de
Aksakof são enriquecidas como relato de inúmeros fatos colhidos e examinados
com atento critério seletivo. A de Bozzano, como vimos, foi motivada pela
solicitação dos organizadores do Congresso de 1937; a de Aksakof resultou de
sua corajosa decisão de responder à altura as veementes criticas do filósofo
Eduard Von Hartmann, intitulada O Espiritismo, que alcançara certa repercussão
pelo prestígio de que gozava seu brilhante autor.
Somos levados a crer, hoje, que o
fator importante no êxito do livro de Hartmann foi o fato de que era o primeiro
ataque maciço e inegavelmente inteligente às teses doutrinárias do espiritismo,
ao oferecer explicações alternativas aceitáveis, em princípio, ou seja, a de
que os fenômenos, nos quais o espiritismo via manifestações de seres
desencarnados sobreviventes, deveriam ser considerados como produzidos pelas
faculdades normais da mente humana. O vigoroso estudo de Hartmann como que
atendia a uma ansiada expectativa de parte de inúmeros cépticos e negativistas
irredutíveis, desesperados por uma teoria inteligente que demolisse, de uma vez
para sempre, as estruturas do espiritismo nascente. Para estes a obra de
Hartmann foi um alívio. Afinal surgia alguém que conseguia 'demonstrar' ser uma
grande tolice essa história da sobrevivência do ser que os espíritas estavam a
disseminar por toda a parte, conseguindo até 'envolver' figuras da maior
projeção na sociedade, nas artes e, principalmente, na ciência. Era uma
loucura, a que alguém precisava mesmo por um ponto final. Acharam que Hartmann
havia conseguido essa proeza histórica - a de deter com argumentos tidos como
irrespondíveis a maré crescente do espiritismo.
O eminente cientista russo propõe para
os fenômenos anímicos uma classificação em quatro categorias distintas, todos
eles, contudo, resultantes do que ele chama de "ação extracorpórea do
homem vivo", isto é, fenômenos produzidos pelo ser encarnado para os quais
não há necessidade de recorrer-se à interferência de desencarnados. Nesse
quadro ele colocou: 1) efeitos psíquicos (telepatia, impressões transmitidas à
distância); 2) efeitos físicos (fenômenos telecinéticos, isto é, movimento à
distância); 3) projeção da imagem (fenômenos telefânicos, ou seja,
desdobramento ou emancipação da alma); 4) projeção de imagens "com certos
atributos de corporeidade", isto é, formação de corpos materializados.
Quanto a Kardec, ainda em O Livro dos
Médiuns, este pergunta aos espíritos se "o espírito do médium influi nas
comunicações de outros espíritos que ele deve transmitir", recebe a
seguinte resposta: "Sim, pois se não há afinidade entre eles, o espírito
do médium pode alterar as respostas, adaptando-as às suas próprias idéias e às
suas tendências." Em seguida, Kardec lhes pergunta se "é essa a causa
da preferência dos espíritos por certos médiuns", ao que os espíritos
respondem: "Não existe outro motivo. Procuram intérprete que melhor
simpatize com eles e transmita com maior exatidão o seu pensamento."
Outro fator a ser, também, considerado
é que sendo o animismo a interferência, participação ou mesmo manifestação do
espírito do próprio médium no fenômeno, vamos notar que determinadas
capacidades psíquicas, classificadas como mediúnicas são, na verdade, anímicas,
por serem capacidades inerentes ao próprio ser humano, pois não dependem da
interferência ou ação de mentes externas, encarnadas ou desencarnadas, para se
manifestarem.
Fontes: Diversidade dos Carismas - Estudando a Mediunidade - O Livro dos
Espíritos - O Livro dos Médiuns - Mecanismos da Mediunidade - Nos Domínios da
Mediunidade - Web