quinta-feira, 7 de junho de 2012

REFLEXÃO - CARROÇA VAZIA

CARROÇA VAZIA
   Uma das grandes preocupações de nosso pai, quando éramos pequenos, consistia em fazer-nos compreender o quanto a cortesia é importante na vida.
   Por várias vezes percebi o quanto lhe desagradava o hábito que têm certas pessoas de interromper a conversa quando alguém está falando. Eu, especialmente, incidia muitas vezes nesse erro. Embora visivelmente aborrecido, ele, entretanto, nunca ralhou comigo por causa disso, o que me surpreendia bastante.
   Certa manhã, bem cedo, ele me convidou para ir ao bosque a fim de ouvir o cantar dos pássaros. Concordei, com grande alegria, e lá fomos nós, umidecendo nossos calçados com o orvalho da relva. Ele se deteve em uma clareira e, depois de um pequeno silêncio, me perguntou: Você está ouvindo alguma coisa além do canto dos pássaros?
   Apurei o ouvido alguns segundos e respondi: Estou ouvindo o barulho de uma carroça que deve estar descendo pela estrada.
   Isso mesmo… – disse ele – … é uma carroça vazia.
   De onde estávamos não era possível ver a estrada e eu perguntei admirado: Como pode o senhor saber que está vazia?
   Meu pai pôs a mão no meu ombro e olhou bem no fundo dos meus olhos, explicando: Por causa do barulho que faz. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.
   Não disse mais nada, porém deu-me muito o que pensar. Tornei-me adulto e, ainda hoje, quando vejo uma pessoa tagarela e inoportuna, interrompendo intempestivamente a conversa de todo o mundo, ou quando eu mesmo, por distração, vejo-me prestes a fazer o mesmo, imediatamente tenho a impressão de estar ouvindo a voz de meu pai soando na clareira do bosque e me ensinando: Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz….

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